Após Macron exigir prova de vacinação para ir a bares, 1,7 milhão de franceses correm para se imunizar
O anúncio do presidente da França, Emmanuel Macron, na segunda (12), de que um passe sanitário será exigido para frequentar locais de cultura e lazer gerou uma corrida pela vacina no país europeu.
De acordo com o primeiro-ministro francês, Jean Castex, apenas nesta terça (13) 792.339 franceses receberam uma dose do imunizante contra a Covid-19, cifra 23% maior do que a registrada na quinta-feira (8). O recorde anterior era referente ao dia 18 de junho, com 752.795 fármacos aplicados.
A média móvel de vacinas distribuídas por dia vinha crescendo lentamente até 1º de julho, quando passou a cair, segundo dados do site Our World in Data, da Universidade de Oxford. No primeiro dia do mês, esse número chegou a 585.128, mas, na quinta (8), foi a 564.411, voltando a níveis do início de junho.
Após o anúncio de Macron, houve também forte procura para agendar a vacinação: mais de 1,7 milhão de franceses, ou 2,5% da população, reservaram um horário na segunda e nesta terça para receber a primeira dose por meio do Doctolib, uma das maiores plataformas do país para agendamentos médicos.
A busca foi tão grande que o site caiu meia hora depois do início do pronunciamento do presidente, às 20h no horário local. Às 21h, eram 20 mil agendamentos por minuto, de acordo com o serviço.
Segundo o médico francês Michaël Rochoy, pesquisador de epidemiologia na Universidade de Lille, boa parte dessas pessoas estava indecisa ou deixando a imunização para depois por uma série de motivos. “O discurso de Macron teve um efeito desencadeador para esses cidadãos.”
As medidas anunciadas em um pronunciamento acompanhado por 22,4 milhões de pessoas, segundo o jornal francês Le Monde, determinam que, para ir a espetáculos, parques de diversão, shows ou festivais a partir de 21 de julho, será necessário apresentar um certificado de vacinação ou teste negativo recente, o tal passe sanitário.
Já para cafés, restaurantes, trens e ônibus de longa distância, a medida valerá em agosto, ainda sem data definida. Ao canal BFM-TV, o ministro da Saúde, Olivier Véran, afirmou nesta terça que não será no primeiro dia do mês, “porque a lei não terá tempo de ser promulgada e totalmente aplicada a partir” dessa data.
Os trabalhadores de locais que recebem público, por sua vez, terão até 30 de agosto para se imunizar, explicou o ministro ao canal France 2, caso contrário terão de se submeter a testes de detecção do coronavírus a cada dois dias “se quiserem continuar a trabalhar.”
Mais cedo, o porta-voz do governo, Gabriel Attal, em entrevista ao Europe 1, justificou a decisão, uma vez que seria incompreensível para muitos franceses exigir um passe sanitário para frequentar esses lugares sem que o mesmo rigor fosse aplicado às pessoas que trabalham nesses locais.
Dona de um restaurante em Saint-Jean-de-Sixt, perto de uma estação de esqui nos alpes franceses, Lucie Genand, 31, viu-se diretamente impactada pela medida. Ela, que retomava o ritmo de trabalho após mais de dois meses sem poder abrir o estabelecimento devido às restrições para conter a propagação da Covid, ainda não se vacinou por medo dos efeitos colaterais. Após o anúncio, precisou rever a decisão.
Os franceses têm, historicamente, receio de se imunizarem.
O início da vacinação contra a Covid no país foi permeado de incertezas: 58% da população rejeitava os fármacos, segundo levantamento feito nos dias 22 e 23 de dezembro pelo instituto Odoxa para os veículos Le Figaro e Franceinfo. A pesquisa indicou ainda que um dos principais motivos apontados pelos entrevistados era que “não se vacinar é uma decisão razoável tendo em vista uma nova doença e uma nova vacina”.
Hoje, ao todo, 52,6% da população já recebeu ao menos uma dose, e 36,8%, as duas.
Ao France 2 Véran, o ministro da Saúde, explicou que as medidas não valerão de imediato para todos com mais de 12 anos. Como a imunização da fatia da população que tem de 12 a 17 anos começou mais tarde, em 15 de junho, a exigência passará a valer para eles em 30 de agosto. Até lá, os adolescentes “deverão sempre permanecer de máscaras onde for necessário”.
A nova determinação já provocou polêmica na França. O presidente da Federação Nacional de Cinemas Franceses, Richard Patry, disse ao Le Monde que a imposição do passe sanitário em locais de cultura mais cedo do que nos demais estabelecimentos é uma espécie de punição.
O Festival de Avignon, cuja programação paralela reúne diversas apresentações em 115 teatros e vai até 31 de julho, será diretamente impactado, por exemplo. O comprovante de vacinação ou teste negativo só era exigido, até o momento, em espetáculos no pátio principal do Palácio dos Papas, com capacidade de cerca de 2.000 lugares. “Isso será de uma dificuldade extrema em termos de pessoal e material para validar o passe”, comentou Olivier Py, diretor artístico do festival, ao jornal francês.
Fonte: FOLHAPRESS