La Casa de Papel: Nova e última temporada começa com muita adrenalina e emoção
La Casa de Papel sempre foi muito boa em começos e fins – o seu calcanhar de Aquiles sempre foram os meios. O fenômeno espanhol da Netflix conquistou o público com um senso forte de história e discurso, além dos planos mirabolantes do Professor e da natural adrenalina de uma trama de assalto, mas encontrava dificuldades sempre que precisava cumprir uma “cota” de episódios, sempre que o imperativo de gastar um tempo no miolo da história fazia os roteiristas encherem a série de reviravoltas e melodramas que só serviam para enrolar o público e acumular mais minutos de streaming.
Natural, portanto, que a série criada por Álex Pina floresça quando o seu final está marcado. Com dez episódios para acabar de vez a história do bando de ladrões que acompanhamos desde 2017, La Casa de Papel não tem tempo, motivo e nem vontade de nos enrolar – e, ao menos a julgar por esse primeiro volume de cinco capítulos, ela é muito melhor assim.
Retornamos ao Banco da Espanha exatamente no momento em que paramos no fim da parte 4: Lisboa (Itziar Ituño) acaba de entrar no banco, enganando os policiais, e Alicia (Najwa Nimri) acaba de encontrar o esconderijo do Professor (Álvaro Morte) e apontar uma arma para ele. Sem o seu mentor do lado de fora, e com a sua única forma de retirar o ouro comprometida, os planos dos ladrões começam a ruir catastroficamente, e La Casa de Papel se vê operando em um modo inédito.
Isso porque, ao invés de ficar esperando pela próxima grande jogada do mestre das marionetes interpretado por Morte, o espectador é jogado de pára-quedas no meio do desastre natural que é um assalto a banco (desse tamanho) levado no improviso. La Casa de Papel nunca foi tão violenta, épica e urgente quanto aqui, especialmente nos episódios “Você acredita em reencarnação?” (5×02) e “Seu lugar no céu” (5×04), verdadeiras maratonas de tiroteios e emboscadas pelo Banco da Espanha.
Para comportar essa adrenalina, a série mais uma vez eleva o seu jogo técnico, o que já havia feito na transição entre as partes 2 e 3 – quando a produção passou para as mãos da Netflix e se tornou um fenômeno global. A escala de destruição e o nível de design envolvidos nestes novos episódios, no entanto, não encontram precedentes em nada do que La Casa de Papel fez antes, e se comparam a muito pouco do que já foi feito na TV, como um todo.
Aqui, a série espanhola se torna um dos produtos de ação mais espertamente editados, fotografados (há alguns takes de assaltantes e policiais em meio aos escombros que são verdadeiramente lindos) e encenados do cenário televisivo. Até quem torce o nariz para a dramaturgia característica de Pina e seu time de roteiristas vai encontrar dificuldades para negar a excelência do trabalho técnico.
Ao mesmo tempo, me parece mesquinho negar a força dramática de La Casa de Papel a essa altura da sua trajetória. Focada como está aqui, a série abandona o cinismo, escancara a sua óbvia afeição pelos personagens, e encontra neles arcos genuinamente tocantes de redenção, esperança, exaspero e subversão. Jogando fora as suas bobagens mais histriônicas, até por necessidade (leia-se: falta de tempo), La Casa se torna uma história que se movimenta mais rápido, mas também uma história que fala mais alto.
O impulso de sair por aí cantando “Bella Ciao” nunca foi tão irresistível.
Fonte: Omelete